Ainda hoje, vejo muitas vezes dizerem que os que “estudaram até tarde” para
serem doutores não sabem o que é a vida. Parece que apenas as pessoas que começaram a
trabalhar cedo passaram por momentos maus, que tiveram de fazer sacrifícios ao
longo do tempo, que só eles abdicaram dos seus sonhos… As coisas não são bem
assim!
Eu sou um dos casos que deixou um trabalho fixo e razoavelmente bem
remunerado para ir estudar, porque tinha vontade de crescer profissionalmente e
aquele emprego “não me enchia as medidas”. Sabia que ali não podia evoluir
profissionalmente, nunca passaria daquele estatuto de assistente. Fui lutar
pelo que queria, mas não foi por isso que o caminho se tornou menos espinhoso.
Eu sei que é duro começar a trabalhar aos 14 ou 15 anos (há alguns anos,
até antes) era duro. Mas não se pode pensar que quem não passou por isso é
menos experiente, ou menos vivido, ou não sabe o que é a vida, ou que nunca
passou dificuldades, ou que nunca foi humilhado… A vida não é assim tão linear,
podemos ser doutores, mas muitas vezes também nós vivemos na pele todas essas
experiencias…
Nem todos são como estes jovens que estão agora na faculdade, ou a
caminho dela, que só se preocupam em gastar o dinheiro aos pais, que vivem uma
vida dupla fora da casa dos progenitores e que junto deles parecem anjinhos
papudos… Muitos destes jovens, são precisamente filhos dessas pessoas que
começaram a trabalhar aos 14 ou 15 anos!
Muitos jovens doutores também passaram por muitas adversidades para conseguirem esse objectivo, não se tira uma licenciatura a brincar com bonecas e carrinhos (ou eu fui burra e não consegui tirar a minha assim).
10 comentários:
Trabalhar aos 14 ou 15 anos? Isso é exploração infantil pah :P
E se largaste um emprego fixo para tentar outra coisa que gostavas mais, só tenho que te elogiar.
Tens toda a razão, ir de encontro ao que se quer não é fácil e é tão ao mais duro que iniciar logo a vida a trabalhar.
O caminho faz-se caminhando e é de louvar qualquer esforço que seja feito para o melhor, ainda que se reduza em resultados menos bons, na essência ficou a tentativa e o risco que corremos.
Assusta-me, isso sim, ver gente da minha idade com cursos tirados à custa dos pais e dos sacrifícios dos pais, a passarem as tardes no café a jogar as cartas e a dizer com cara de santos " não há trabalho", mas também não o procuram! Isso, sim, custa-me ver !!
Eu tirei a minha licenciatura com o sacrifício dos meus pais, mas não os sacrifiquei mais quando percebi que com ela não iria a grande lado, desbravei terreno por outros lados e hoje faço tudo menos trabalhar na área.
São opções, são vidas!
Eu também devo ter sido um bocado burra, até porque a minha vida de estudante não foi muito agradável.
Muito bem dito! Parabéns :)
Há muita verdade naquilo que disseste. Há muitos colegas meus que passam as passas do Algarve para tirarem o curso, e outros que até têm bolsa e são ricos e que gastam mais que um salário mínimo nacional por mês...
Bjs*
Ora nem mais! Adorei o post, a sério! :)
Sempre muito sensata minha cara ;) Concordo plenamente com o que disseste e vejo isso cá em casa. Eu estudei e trabalhei ao mesmo tempo para ajudar nas despesas, já a minha irmã é pouco dada a mexer-se para alguma coisa.
Detesto quando se metem com o paleio de terem mais experiência de vida do que eu e por isso sabem mais da vida do que eu.
Tretas, nem um quarto da minha vida conhecem, como é que podem tirar uma conclusão dessas assim num abrir e fechar de olhos?
Tens razão, há a ideia que os estudantes são aternos tipos em férias. Mas ninguém calcula as vezes que se passa fome por termos uma bolsa reduzida e uma familia pobre ou as noites em branco a estudar porque de dia se trabalha.
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